sexta-feira, 24 de julho de 2009

Perder um amigo

PERDER UM AMIGO Perder um amigo, é perder um abrigoSair pelas noites, caindo nos bares.É como sumir de uma hora pra outraO seu crucifixo, a fé de rezar.É sentir-se mal onde não há ninguémNenhum que te veja, e te faça sentar.E prender o sangue, para estancar chorar.É enterrar os dedos bem dentro dos olhosE chorar aos molhos até se molhar. Perder um amigo é perder um arrimoQue em tudo era ele que te sustentavaÉ ir às campinas e ver que feneceuO rozeiral que vistes há pouco, inteiro.É subir a ponte e ouvir do precipícioUm chamado no ouvido, sentir calafrio.É passar as noites do jeito noturnoÉ abrir os retratos e lhe ver em tudo,Ou parte da vida que não faz sentidoAntes do teu choro, choro pelo amigo.Perder um amigo é a gota mais lentaQuando se pensava que ainda tinha dentro.É olhar-se nos outros, a referência perdida,É como esquecer-se da roupa, da vidaE entregar-se posto, diante de todo mal.No dia mais claroA hora imprevista para alguém chegar.Perder um amigo é perder coragemE virar, covarde, as costas pro mar,É ouvir virem ondas piratas do céu.Perder um amigo é caminhar ao léuÉ doer a cabeça, e não ter um remédioDe não mais ter fim, nunca melhorar.É a necessidade de um psicanalistaPerder um amigo é passar em revista,À frente dos túmulos, diante da saudade,Perder um amigo é ir antes da idade.Perder um amigo é perder o horário,É querer no íntimo, nunca mais acordar.Perder um amigo é a dor mais sentida,É contar por dia umas mil recaídas.É perder a gota de sangue, derradeira,Perder um amigo é baixar num hospital.
Naeno

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